terça-feira, 10 de março de 2009

DVD - Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (e um comentário sobre publicidade de cinema)

Quando você assiste a um filme sem expectativa nenhuma, sem nem mesmo ter visto o trailer, existem dois desfechos possíveis:
  1. Cometer a cagada do século e ter gasto 2 horas da sua vida desejando ter a força suficiente pra arrancar a própria cabeça e jogar na tela (aconteceu comigo, quando assisti à Sexo, Amor e Traição, em meados de 2004); ou
  2. Assistir algo de qualidade e sem pretensões.
O filme Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan In Real Life, 2007) se enquadrou nesta segunda alternativa, pelo menos no meu caso, e entra na minha lista dos melhores fell-good movies que eu já vi.

Steve Carell (de O Virgem de 40 Anos e O Agente 86) é Dan Burns, pai viúvo de três meninas, que tem uma coluna no jornal, chamada Dan in Real Life (título original do filme), onde dá conselhos amorosos para os leitores.

Em uma viagem de família para a casa dos seus pais, em Rhode Island, Dan conhece Marie (Juliette Binoche) em uma loja de livros, e basta um café para que os dois percebam que existe algo além de uma conversa casual em um dia chuvoso. A única coisa que eles não sabem, e que descobrem minutos depois de sair da loja, é que Marie é a nova namorada do irmão de Dan, Mitch (Dane Cook). Isso basta para que eles tentem descobrir como lidar com a situação das piores maneiras possíveis, nos piores momentos, afinal de contas, a família Burns inteira está lá para passar alguns dias.

O filme é dirigido pelo novato Peter Hedges, que tem no currículo o roteiro de Um Grande Garoto (About a Boy, 2002) , com Hugh Grant, e funciona bem, mesmo partindo de uma premissa batida e que remete à todos os clichês das comédias românticas, o único porém do filme é que ele NÃO é uma comédia romântica, muito menos um romance meloso, ele é um filme sobre relacionamentos.

Não, este gênero não existe, mas é a melhor definição do filme, que eu coloco na mesma categoria (que eu inventei agora, confesso) do Um Beijo a Mais (The Last Kiss, 2006), que também não consigo definir como Comédia Romântica (longe disso), Romance (loooooonge) e muito menos Drama (nem passa perto).

É o tipo de filme que coloca o espectador pra pensar nas coisas que acontecem na vida, não no sentido metafísico matrix de ser, mas sim nas decisões e situações que cada um passa durante suas vidas, e em como isso afeta quem nós somos.

O filme tem uma trilha sonora excelente, composta quase que totalmente por músicas de um compositor norueguês chamado Sondre Lerche, e que vira uma assinatura do filme (especialmente por se tratar de composições originais).

Talvez o filme tenha passado desapercebido pelo grande público aqui de Terra Brasilis porque foi vendido como uma comédia romântica mesmo, prova disso é o título em português, que remete à um conflito entre dois irmãos por uma mulher. Não que este não seja o plot principal do roteiro, porque é, mas o foco ultrapassa esta primeira camada de obviedade e acaba ficando nas mudanças de comportamento e no redescobrimento da felicidade de Dan, cuja vida ficou marcada pela perda da esposa e pela responsabilidade de cuidar de três jovens garotas, com personalidades e idades diferentes.

Compare os pôsteres americanos e o brasileiro:



Note a sutileza do uso das imagens nos pôsteres acima. NADA é mencionado sobre Mitch, o foco é sempre em Dan e Marie, nem as taglines ("ALGO ESTÁ ACONTECENDO COM DAN. É CONFUSO. É EMBARAÇOSO. É AMOR" e "PLANEJE PARA SE SURPREENDER") indicam um namoro nem nada de disputas entre os irmãos.



Este, que é o pôster utilizado na divulgação principal do filme, mostra o estado de inércia em que Dan leva sua vida, também tem tuuuuuuudo a ver com briga de irmãos, não é? Ah, detalhe para a mudança sutil na tagline: ALGO ESTÁ ACONTECENDO COM DAN. É CONFUSO. É EMBARAÇOSO. É FAMÍLIA"



E aqui, finalmente, o pôster nacional, com a brilhante tagline "O QUERIDINHO DA FAMÍLIA ACABA DE SE APAIXONAR... PELA NAMORADA DO IRMÃO!" e as imagens de Dan, Marie e Mitch.

Entendam, não estou dizendo que é errado fazer publicidade de filmes desta maneira, mesmo porque o objetivo é trazer o público aos cinemas, mas coisas assim queimam o lançamento do filme em DVD, que chega ao mercado sem força ou apelo algum.

Escrevendo este post, lembro do lançamento de Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), o segundo filme do Apu, quer dizer, do M. Night Shyamalan, depois do sucesso FODA de Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999). Aqui no Brasil o público lotou os cinemas pra ver a história do garotinho que via gente morta (Ooooops, foi spoiler?), e quando chegou a hora de lançar o filme de super-heróis mais "real" que já foi feito, qual foi a tagline que utilizada nos pôsteres nacionais? Um doce pra quem chutar que foi algo relacionado ao sobrenatural para atrair o público que gostou de O Sexto Sentido.



Bingo! "VOCÊ ACREDITA NO PODER SUPERIOR?"
Resultado, fracasso retumbante, tanto no cinema quanto em DVD.

Ah, só mais um comentário, a própria tradução do título remete à um termo espírita, que não tem ABSOLUTAMENTE nada a ver com o original em inglês, que mostra exatamente o que é o personagem de Bruce Willis, INQUEBRÁVEL.

Voltando ao assunto original, assistam à Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, depois me digam se quando os créditos começaram a subir você não estava com um baita sorriso no rosto.

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